sábado, 8 de agosto de 2015


Duas rainhas de Circos, histórias em tupi-guarani.
 
Nossa grande, fenomenal e maior de todos os mundos plateia, cá estamos neste espetacular picadeiro-blog... Onde a cada semana, alguns detalhes se repetem, é isso, é preciso... porém, o que tem de novidade, espanto, surpresa e principalmente de     a-le-gria... é prá dedéu... e vamô contando os sinais e xaxando e xamegando que o agito começa com  duas Realezas e a corte da Vossa Alteza  na nuuuuuuoooosssa...

PRIMEIRA PARTE – PRIMEIRO NÚMERO

 
“A rainha e o príncipe Guaraciaba, Raios de Sol”

Dois “raios” de sol iluminando as memórias do negro João
 
E é essa nobreza... Esse requinte... Esses gestos estudados e precisos que marcam a entrada, solene sim! ,  do palhaço Xamego e dessa Mãe-rainha com seu filho – é, ou não um príncipe?-, um legítimo herdeiro de tradicional família... Palmas, reverência, acenos respeitosos para esse igualmente respeitável grupo que honra o adjetivo circense...e ainda mais o gênero feminino. Se o nosso palhaço Xamego se orgulha do Circo Guarani, os outros dois artistas carregam com satisfação o DNA dos Guaraciaba, um dos poucos circos que tem o nome... de uma mulher... Inacreditável!...

Agora os ilustres convidados de agora narram através de  imagens – nítidas, pois não? - bem embaixo desta lona, toda história da história, da família de nome originado no tupi-guarani... Isso também?... Que glória!  Elenque, pois e vibre:   palhaços, ingênuas, caricatas, malabaristas,  galãs, acrobatas, saltadores, mágicos, trapezistas... e tudo que se vê e... mais... do tanto que se imagina... Uma rainha e seu príncipe... ela sozinha... ele sozinho... juntos, e sua corte... realizando e abrilhantando este espetáculo com atrações várias e especiais... Quanta emoção!... Quanta destreza! Que herança real essa dinastia carrega no sangue... Sangue azul, atente!... E os acontecimentos que marcaram a memória de cada um deles?...

O príncipe Guaraciaba: “Meu avô contou pro meu pai que contou pra mim, muitos casos sobre o famoso dono do Guarani... Meu filho,... dizia  meu avô pro filho e o meu pai  pra mim... O João Alves era muito severo, supersticioso, e tudo que não dava  certo ele chamava a esposa assim “BRIIIIIIIIIIÍGIDA”... Alexandre serra os dentes,  imita a careta do negro João e ninguém fica sério... Você ri alto, hein?...

Guaraciaba, a rainha: “E a minha negra bisavó, em seu tempo orgulhosa por ser a primeira ingênua do grande Benjamim, também dizia pros seus netos e, no meu caso, bisnetos, que nunca esqueceu aquelas superstições do seu João, pra ela, nada infundadas... Se passar um gato preto pelo picadeiro antes do primeiro espetáculo, desmonta o circo e vai embora...Se ficar, azar!...” Divertida, essa grande dama!

E, de caso em caso, de “lenda” em “lenda”, o picadeiro-blog vai desfiando mais um novelo da grande e real história de dois grandes circos tupiniquins... Isso é que é Brasil, brasileiro! Suspire profundo e aplauda pra fora.

O flagrante: “Bríííígida”

SEGUNDA PARTE

Nada como uma boa história... Mas quem gosta de contar casos e histórias é um bom pescador... O pescador conta histórias ou mentiras?... Se  é verdade ou mentira tanto faz, o importante é a nossa peça de agora que foi feita para quem é contador e quem é “ledor”... de picadeiro-blog... Vamos, então ao Diálogo no pratão...que intitulamos 
“AQUELA CABELUDA DO PESCADOR” 
A cabeluda do Pescador distrai o "amigo" e convence o severo João.

Cenário: Refúgio de uma filha-do-meio quase sem amiguinhos para brincar: em cima de uma mangueira perdida num grande cafezal.

Protagonistas: a menina Eliza, nove anos, e o grande amigo macaco, revezando-se no mastigar de ervinhas medicinais, amontoadas num grande pratão, encaixadinho no meio dos galhos.

1º Diálogo

Pescador: Eu sei porque a menina não tem amiguinhos nem amiguinhas... É preciso parar de atirar pedras de longe... logo... logo, todos sabem quem atira... ( focaliza o pratão e separa uma ervinha)
Menina Eliza: Quem te falou isso?... Quem disse que sou eu?... A Efigênia é traidora!... Isso é história sua... é mentira sua...

Pescador: Dizem que enxergam de longe uma menina, gorducha, cabeluda e saem correndo porque ela é boa de pontaria... ( pega mais uma ervinha e cheira as duas)
Menina Eliza: Você é meu amigo ou também não é?... Fala logo que eu já te dou uma pedrada... (tira as ervinhas da mão dele e come: vai ser bom pro machucado no cotovelo).


2º Diálogo

Menina Eliza:  E a sua família onde está?... Você fala de mim mas eu nunca vi irmão seu, nem irmã, pai, mãe... nem primo... Então... (focaliza as outras ervinhas que o macaco está focalizando no pratão e pensa na dor-do-joelho)... Eu não tenho amigos e você não tem família...
Pescador:  Para de mentir, menina... eu sou macaco, mas também sou bom de mira... (pega três ervinhas, cheira e mastiga)... Minha família é de macacos filósofos... (mastiga mais)... Somos “Os Chimpanzés”, família tradicional e circense... os humanos dizem que somos quase humanos... Oras, oras os humanos...Mal sabem que nada sabem... (tira o chiclete verde da boca e coloca no inchado raspão do joelho da garota)
Menina Eliza aliviada e agradecida: Isso é uma história, um caso, uma lenda ou uma mentira cabeluda?... O macaco desce da árvore e se joga no chão...

3º Diálogo, na verdade, um Monólogo

 Menina Eliza:  Não precisa ficar nervoso... Senhor Pescador Chimpanzé... O pratão caiu no chão e ainda tinha muitas azedinhas saborosas!... Fora que estou cheia de coceira na cabeça... Tem ervinha pra isso?... Acho que já vi “Os Chimpanzés” fazendo malabares no circo do meu pai... Sabe?... O Circo Guarani tem muitas famílias tradicionais de animais... “Os Girafas”, “As Leoas”, “Os Hipopótamos”... Ela desce da árvore, percorre o mato e enche o pratão de ervinhas.  E se joga no chão, ao lado do macaco.


4º Diálogo 
Céu ensolarado, pratão recheado, a Menina Eliza focaliza dois pássaros voando lá em cima...

Ela: Ah, entendi... Você está se fingindo de morto pra pegar aquele mais gorducho!...
Pescador: Mais sussurrando que explicando e de olhos fechados. Que mentira!... A menina pensa que é esperta... Primeiro, estou refletindo... Segundo, não existe família “Os girafas”, “As Leoas”... E “Os Chimpanzés” são uma família nobre de macacos, pela sua notável inteligência... Sem contar que essas ervinhas não passam de puro mato!... Agora, quieta!...  (ele abaixa quase todo o som da voz)... e ter-cei-ro... o mais magrinho é o mais saboroso!... Mas o macaco come tudo do pratão!


5º Diálogo

Menina Eliza: No chão, lado a lado com o macaco. Pois é, o golpe não deu certo... Os passarinhos foram pra longe e eu também preciso entrar... Você vai voltar pra árvore?...
Pescador: Antes quero relembrar minha mãezinha nos malabares... Levanta, pega três mangas do chão e “malabariza” com maestria... E pergunta: Ei, amiga, diz a verdade, se o seu pai me visse me contratava?...
Menina Eliza: Pega o pratão, que vira pratinho, no meio do cabelão, talvez cartolinha?, faz caretas, brinca e finge tombos seguidos de cambalhotas... O macaco se joga no chão, de novo, e ri sem parar... Alegre, ela pergunta: Você é meu amigo?... Se fosse meu pai,  me contratava?... Não mente pra mim, Pescador!

 Amigos, Xamego e Pescador “malabarizam” no Circo Guarani.
...  a vovó  que já tem setenta anos...  ainda quer xodó...

Mentira cabeluda tem perna curta?... Fim do espetáculo!