sábado, 25 de julho de 2015

Aplaudam, aplaudam! É sim, a dupla Xameeeego e Reeeis! 

Edson Leal, distinta plateia, é mesmo genial!... Olhou, clicou, e... traçou o flagrante dos reis da Alegria do Circo Guarani, antes da esperada “entrada” da atração maior. E a dupla já está xamegando, xaxando e contando muitas e ótimas pra sacudir a serragem e agitar a lona do nosso picadeiro colorido e iluminado. Senta que lá vem novidade. Relaxa que se anuncia a nossa...

PRIMEIRA PARTE – PRIMEIRO NÚMERO  

"Os Saberes e as Artes"

O palhaço Xamego surpreende a especialista das Artes Circenses, 
Erminia Silva.
Epa! Quanta gente... Céus... É tudo isso mesmo ou vamos por partes?... Sim, é um número sofisticado, jamais visto até em blogs ou quetais... Não é uma questão de gênero nem quantidade. Trata-se de performance... Mas, note, entre os dois grupos que se distinguem pelo trajar... o das Artes é mais despojado, não?... há uma mulher elegante... gestos firmes... olhar seguro que se move de lá para cá, muito à vontade... Olho nela!... Ela é o segredo...
Todos se movem... Interessantes... Misturam-se... Separam-se e... o resultado... é esplendoroso!... Foque a iluminação, as luzes que parecem triplicar-se a cada vai e vem... É dela, é ela. Não a perca de vista! Minuciosa, reflexiva, perceba, ela vai medicando, dosando, eliminando pequenas dúvidas dos Saberes, de um lado, e aplicando eventual esmero no outro, o das Artes... Aprova a atuação de todos?... Esplêndida!... E a participação especial desta pesquisadora?... Uma especialista?...  Talvez, Doutora?
As duas, no geral e uma delas, em particular. Na medida certa, pois não?... Pode aplaudir, mas...modere entusiasmos... Em cada lado, o número vai mudando....Você se surpreende?... Mas ela não...  Negro, grande empresário de circo?... Não surpreende...  Negros destaques nas Artes?... São os melhores... Não há novidade...
No entanto, toda atenção à apoteose...na qual, sabe-se, ninguém consegue  segurar o espanto... Mesmo ela, vê?... Nesse final nem ela controla a perplexidade... Que número espetacular!
A Doutora Ermínia da Silva transita no mundo dos Saberes e das Artes, é autora da meticulosa biografia do grande ator negro Benjamin de Oliveira... mas, agora, se vale do lado circense,  descendente que é dos Stevanovich e Stankowich que atuaram nos tempos áureos do Grande Circo Guarani.
No último movimento de ida pros Saberes reconhece que o Xamego é um grande palhaço, mas... na volta do  outro lado, a voz das Artes revela... É uma mulher!!!... Você ouve?... Ela ouve. É a chave de ouro!... 
E Ermínia efusiva, cheia de entusiasmo, enfatiza, heureca!, sem titubeios: “ O Xamego me surpreende!... Quanta habilidade, talento e repertório tinha que ter Maria Eliza, em sua época, para sobreviver atuando como masculino, no fechado nicho masculino do circo, que é o do palhaço!...” Vê a descoberta?... Não é o maior número de todos os tempos?...
Aplauda com gosto... Já pode!... Ela sabe que sabe o que diz. Até porque ao final de tudo,  joga o rosto para trás, acomoda a franja no meio dos fios do cabelo brilhante e sorri largo com os olhos, feminina que é...
Enfim, felicidade virtual.

SEGUNDA PARTE 

Quão alegre fica-se com os espetáculos aqui realizados. A plateia e as atrações gostam das novidades e principalmente das surpresas. Conserva-se, então esse clima, para apresentar a peça de agora, que, como convém, é inédita e plena de espantos...

“ERA PRÉ-XAMEGO: AS CANTORAS SEM RÁDIO” 

 
A música “ti-pi-ti-pi-tin” elas ouvem e cantam do Rio pra São Paulo e pelas São Paulo e Rio. 
 
Pai e circo longe de casa, as irmãs tentam animar a mãe combalida.

Cenário: Vagão simples de trem, itinerário São Paulo – Rio – IDA/VIAGEM/CHEGADA AO RIO. E Rio - São Paulo – VOLTA/RETORNO A SP. Protagonistas – As jovens Efigênia e Maria Eliza. 
1ºAto. Trem: São Paulo - Rio. A IDA - Caladas, uma janela prá cada uma, as duas ouvem a canção alegre, no clique ali, em alguma das outras cabines. A música contrasta com o ambiente tristonho e ainda é cantada em castelhano. Mãe Brígida era uruguaia. A vareta: “Puxa vida!... Tinha que ser mamãe e logo depois o Nenê?...” Silêncio quebrado pelos trilhos e a música mais alta... A irmã: “POR QUE você não PARA de falar e pede que desliguem ES-TA música?... CLICK!
2ºAto. Trem: SP-RJ. A VIAGEM - Esperançosas, deixam a música insistente tomar conta do vagão. Mal se ouvem os trilhos. A irmã interrompe o som: “Como será a família do "Tio" Benjamim... Ele tem duas ou três filhas?...” A vareta: “Não sei, mas devem ser BOTUCUDAS como VOCÊ!...” Bolsa na cara... Mas o som está lá  e quatro pezinhos sapateiam no ar. Risos e alguma alegria...  
3ºAto. SP-RJ – A CHEGADA AO RIO– No vagão, a plenos pulmões, as jovens assumem a canção, na voz e no pé: sapateado de primeira. Fora, quatro rapazes e uma garota observam e todos aplaudem no final... O “chefe de estação” bate no vidro e avisa “desembarque”. A botucuda: “As irmãs Alves foram A-PRO-VA-DAAAAAS”... A  vareta, pensa com ela mesma: “E se não der certo com o "Tio" Benjamim, podemos falar com a Noêmia, eles viajam pelos teatros do Sul...”
4ºAto. Trem: Rio-São Paulo – A VOLTA - Maria Eliza, em pé, tirando sapatos: “Não aguento mais tragédias... Nada dá certo! Mas valeu a pena... Foi bom conhecer uns e outros na Rádio Nacional...” Efigênia, sentada no banco: “Você viu como a Dercy Gonçalves é engraçada? E a Linda Batista canta pra chuchu... vão ser um sucesso!... Tô falando com você, sua BOTUCUDA..." Dois sapatos no pescoço. Depois a bolsa. 
5ºAto.Trem: Rio – São Paulo - O RETORNO À SP– Efigênia esvaziando a mala: “Onde está a minha “pena-polaca”?... Você tem inveja de tudo...” Maria Eliza: “Tô cansada de pensar na música que a gente tanto cantou... e prá que?... Nem queria ser cantora...” Efigênia: “Bem que gostava dos aplausos tanto cantando, quanto atuando... um “show” você, né BOTUCUDA!” Maria Eliza, mala na mão e o “ti-pi-tin...” na cabeça: “Para, que vou te acertar...  não sou botucuda... nem sou mais cantora, vou ser  outra coisa.”  Mala na mira e Efigênia, veloz, esquiva-se. Solfeja o “tip-pi-tin” e atiça: “Vai fazer o queeeeh... casar e ser palhaço?”. Mala na cabeça. Xamego nunca erra.
Efigênia e a sobrinha Noêmia Arruda que recebeu as “Irmãs Alves” no Rio.
Na era pré-Xamego, Maria Eliza, à esquerda, em palco do Sul do país, com a trupe e Genésio Arruda, à direita.

Final do espetáculo e, oba!, alvíssaras à Era-Xamego.