sábado, 21 de março de 2015

PRIMEIRA PARTE

Palhaço Xamego

Respeitável público!

Estamos felizes porque o palhaço Xamego, quem nomeia esse blog e que invade sua tela direto do maior picadeiro virtual do mundo, sim, ele mesmo, o famoso Xamego completa dia 21 de março de 2015 - 106 anos...

Uau, pensou você...
É isso mesmo!

Portanto, com esse palhaço eternamente jovem, vigoroso e muito engraçado, apresentaremos para vocês...você...e você, o maior espetáculo do mundo virtual. Isso a cada semana... Muita atenção e lá vamos juntos...

Primeiro número

Palhaço Xamego

Aplausos para o palhaço Xamego. 

Bem no centro do nosso picadeiro você tem ele, ele que, como já foi anunciado, é a principal atração deste espetáculo. Danado de careteiro, notem os trejeitos...  Xamego  trabalhou em picadeiros cheios de serragem, como este, por mais de 20 anos. E, na maior parte do tempo, no Grande Circo Guarani, da conhecida família circense de João Alves - seu pai.

Mas quem vai apresentar esta história é a sua neta Mariana Gabriel, a Palhaça Birota.

E vamos aos holofotes, temos vários e coloridos embaixo desta lona.  Holofotes pois,  sobre esta  figura enigmática, um tipo diferente , com voz de homem , vestes e gestos masculinos que .... E, lá vai a primeira revelação do espetáculo de hoje:   Palhaço Xamego  é nada mais nada menos que a avó da palhaça Birota. Agora fixem seus olhos na figura e depois desviem para as palavras deste picadeiro-blog... Eis a segunda grande revelação: Xamego era uma pequenina e graciosa mulher negra.
Uaaaau... Desfeito os segredos deste primeiro número, aplausos portanto, para o Blog do Palhaço Xamego -  a primeira palhaça negra do Brasil. Obrigado, obrigado, os  aplausos são justos.

Segundo número

E, agora, para prolongar  o clima festivo dos aplausos, vamos chamar o som dos alto-falantes para a segunda atração deste espetáculo-virtual.  Continuem com as palmas!


Nas caixas, a música tema do Xamego imortalizada na voz do Rei do Baião.
Vamos lá... Cantando com Gonzagão!

Xamego

Luiz Gonzaga

         O Xamego dá prazer        
O Xamego faz sofrer
O Xamego às vezes dói
Às vezes não
O Xamego às vezes rói
O coração

Todo mundo quer saber
O que é o Xamego
Ninguém sabe se ele é branco
Se é mulato ou negro (2x)

Quem não sabe o que é Xamego
Pede pra vovó
Que já tem setenta anos
E ainda quer xodó

E reclama noite e dia
Por viver tão só
E reclama noite e dia
Por viver tão só (2x)

Ai que xodó, que Xamego
Que chorinho bom
Toca mais um bocadinho
Sem sair do tom
Meu cumpade chegadinho

Que Xamego bom, ai que Xamego bom,
Ai que xamego bom (2x)

Terceiro número

Atenção para a segunda grande atração deste dia comemorativo dos 106 anos da Vó Xamego. Luzes no pequeno baú. E lá está a netinha que vai contar a história da vovó. Lentamente... sim, é o que você viu: a história se abre  pelas mãos da  Palhaça Birota.  Danadinha! ...  É o  número do baú da Birota.
Palhaça Birota

Olha aí, que vamos botar a imaginação que o picadeiro-virtual facilita. Olha a foto e mire no baú... De dentro dele, a Birota tira... primeiro a cartola... depois,  a grande e muito torta bengala... e, agora,  um  e depois outro dos compridos sapatos  do Xamego...  Enfim,  assim começa  a história da vovó que esta netinha levada quer revelar através do Projeto  Carequinha de Estímulo ao Circo,  já contemplado.

Legal! Vai daí que, imaginem só: 
Pensando no que pretende o projeto, Birota dá uma geral no baú e começa a encontrar textos, livros, teses e registros históricos sobre os circos itinerantes brasileiros, como o Circo Guarani, do bisavô João. Percebe no pacote de papéis, uma longa história que começa com  o nascimento da vó Eliza, em 1909, até... suas últimas apresentações no Circo Guarani e em outros circos de São Paulo,  setenta anos depois. 

Minha nossa, pessoal! 
É ou não é muita cambalhota, muita pirueta, muita palhaçada, riso, gargalhada, e claro, vá lá,muitas lágrimas também.
Até porque o Palhaço Xamego adorava conjugar alguns verbos especiais como sofrer, chorar, lutar, cair e levantar . Guerreiro. Dentro e fora do picadeiro.

E continuando a bisbilhotice da netinha, é de lá do fundo do baú  que a palhacinha travessa ainda quer encontrar  muitos depoimentos, tanto de parentes do Xamego, como de muitos amigos ainda vivinhos da Silva, e de vizinhos das muitas moradias por São Paulo. Além, claro, e ela não vai descansar antes de saber onde encontrar, os filhos e netos dos incontáveis artistas circenses de famílias tradicionais que conheceram e trabalharam no Grande Circo Guarani!

Famílias como, ela puxa pela memória: “os Stankovich”, “ os Stevanovich”,  “os Tangarás”, “os Temperani” , "os Militello”, “os Seyssel”... Epa! E não é que a Birota está parada? Olha lá...  Birota acaba de visualizar, lá no fundinho do baú,  as lembranças daqueles como você que, em picadeiros como este, foram os risonhos espectadores   que completaram a vida do Palhaço Xamego.

Você está ouvindo os aplausos?... Ah, você também está aplaudindo. É isso aí!
Ah! Quanta alegria! Palmas, palmas, palmas...


SEGUNDA PARTE

Teatro no Picadeiro                
E agora eu quero ver se alguém aí sabe mesmo das coisas... Atenção!...  Levanta a mão quem  acha possível  um filho de um homem escravizado se tornar um famoso dono de Circo,  cheio de leões, elefantes, cavalos e macacos amestrados...  


Ninguém?...Nenhuma mãozona?...

Nenhuma mãozinha?...  Ora, ora... Pois, essa vai ser a história, a nossa grande peça, da segunda parte do espetáculo de hoje...  Uma história de verdade,  verdadeira...  que começa a ser  encenada  nesse mesmo instante, com o primeiro dos cinco rápidos e mirabolantes atos...  Vamos botar a imaginação prá funcionar, pessoal...  O nome da peça é...

O Grande Circo do negro João 

João Alves, Efigênia Alves e o elenco do Circo Guarani.

E viva o mundo virtual!... Lá vai. 

1o Ato

Há muitos e muitos anos, vem ao mundo essa criança que está no meio do nosso picadeiro virtual.  É o João, um negro nascido do ventre livre de uma das muitas mulheres escravizadas brasileiras  e que  aprende a dura penas  o que é crescer num mundo racista e, por isso, sem trabalho, e sem justiça social...Isso nos anos setenta do século XIX, e pelo que sabemos não tão diferente dos dias de hoje.  O cenário é de penúria, pobreza e secura...  As luzes se apagam e, rapidamente se acendem para ...


2o Ato

O mesmo João, agora um esperto rapazinho, conversa com um grupo de amigos sobre a Lei que acaba com a escravidão, a Lei Áurea. O ambiente está mudado, e os detalhes gestuais   evocam  a esperança de tempos melhores.  Luzes e cortinas.


3Ato

João de novo no picadeiro,  é agora  um homem alto, forte, com traços marcados pela sisudez  e seriedade:  ele é o dono do grande Circo Guarani...  Atentem que lá vem o Quarto Ato.


4o Ato

Luzes clareiam e lá estão dois cenários que se contrapõem : dentro do Circo, animais selvagens  desfilam, obedientes e cavalos enfeitados com penas e paetês ladeiam,  passo a passo, seus  domadores e domadoras. Todos ricamente vestidos e com modos  elegantes. Tempos  áureos  do agora famoso João Alves . Fora do Circo, marcas de batalhas e destroços das duas grandes guerras que continuam assombrando o mundo inteiro... Silêncio e temores. Chegamos então ao  Quinto e Último ato.


5Ato

Cenário empobrecido de tempos difíceis. E lá... bem no centro do picadeiro, duas figuras chamam nossa atenção: João, então envelhecido e uma jovem mulher, pequenina, cabelos crespos à vontade e uma cartolinha minúscula na cabeça. Atenção redobrada.  Parado diante da sua filha, João tenta disfarçar o riso – uma mulher? -  e ela se espalha  em  meneios, caretas e  gestos desconcertantes... Não dá prá segurar...  Ao som de gargalhadas,  acaba de nascer  o palhaço Xamego!... Pano rápido.  A alegria está de volta!   
Fim do espetáculo.

Feliz aniversário!
Mais 106 anos pra você, Xamego!